As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras (Teenage Mutant Nija Turtles: Out of The Shadows)
As Tartarugas Ninja estão entre os personagens mais queridos das décadas de 80 e 90 do século passado, tendo sido fartamente utilizadas em várias mídias e todo tipo de merchandising, desde action figures até chupetas de bebês. Algumas histórias deram origem a vários longas, porém sempre com o tom mais sombrio do que aquele visto nos desenhos de TV (sim, sou velho o suficiente para chamar animação de desenho animado). Em 2014, o diretor Jonathan Liebesman, sob a batuta de Michael Bay, tentou dar uma nova roupagem aos personagens, com um resultado bastante contestável, do ponto vista artístico. No entanto, devido ao grande sucesso de bilheteria, uma continuação foi inevitável. Agora, sob o comando do diretor Dave Green, os adolescentes mutantes voltam a proteger as ruas de Nova Iorque em uma nova aventura.
Depois dos eventos do primeiro episódio, Leonardo, Michelangelo, Donatello e Rafael continuam trabalhando no anonimato, uma vez que o jornalista Vernon “Falcão” Fenwick (Will Arnett) ficou com toda a fama. Apesar disso, eles mantêm contato com a amiga jornalista April O`Neal (Megan Fox) e tentam manter seus hobbies, como assistir a jogos do New York Knicks e devorar pizzas em profusão. O que eles não imaginam é que o perigoso Destruidor (Brian Tee), em parceria com o cientista Baxter Stockman (Tyler Perry) – uma espécie de Neil deGrasse Tyson ultra nerd – conseguiu entrar em contato com um alienígena maligno chamado Krang, que planeja invadir e dominar o planeta Terra. Tanto que emprestou para seu novo assecla uma substância capaz de transformar seres humanos em animais, o que fez com que os desastrados bandidos Bebop (Gary Anthony Williams) e Rocksteady (Stephen Farrelly) entrem para o clã do Pé.
O roteiro de Josh Applebaum e André Nemec tem a mesma profundidade de um pires do primeiro, porém com algumas melhorias. O grande acerto é apostar numa história leve, bem humorada, que lembra bastante o clima dos desenhos dos anos 90 citados no início do texto. Até mesmo o abuso de estereótipos e clichês – irmãos que brigam para fazerem as pazes, o eterno “precisamos nos aceitar como somos”, vilões unidimensionais, entre vários outros – contribui para esse clima, às vezes nostálgico, às vezes infantil. Há ainda vários bons momentos, como o uso de uma música de Vanilla Ice (numa referência ao filme de 1992), a peruca ridícula de April em um disfarce, que deixa a atriz parecida com a personagem da tv, ou as várias referências de Michelangelo a clássicos do Cinema. Porém, mesmo com esses acertos, a trama não consegue escapar da sombra nociva de Michael Bay: Cortes acelerados que impedem que o espectador compreenda o que está se passando, piadas infantiloides, Megan Fox em câmera lenta e em ângulos ridiculamente sensuais, trilha sonora sempre megalômana, como se todos os momentos da projeção fossem épicos e grandiosos, a falta de noção geográfica na construção das cenas (como um depoimento numa delegacia dura o mesmo tempo que uma viagem de ida e volta entre Nova Iorque e Cuiabá, que, diga-se, não faz parte da floresta amazônica?) e claro, as autorreferências (dessa vez alguém aparece fantasiado de Bumblebee!).
O elenco faz o que pode com o material pobre que recebe. A química entre os protagonistas e April funciona bem o suficiente para não atrapalhar o desenvolvimento da história. Will Arnett se diverte como o canastrão “Falcão”, da mesma forma que Laura Linney, como a durona chefe de polícia. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer de Stephen Amell, que interpreta o novo parceiro das tartarugas, Casey Jones. Incrível como ele é incapaz de demonstrar qualquer emoção, ainda que seja o responsável por algumas boas tiradas. Tyler Perry exagera no estereótipo de nerd: risada grotesca, nervosismo perto de uma mulher bonita, verborragia repleta de palavras difíceis e termos técnicos e uma vaidade inexplicável.
Os efeitos visuais são o ponto alto do longa. Além das explosões e pirotecnia habituais em filmes dessa natureza, as próprias tartarugas atingem um nível de realismo excelente: a textura da pele, o peso, iluminação, movimentação e interação dos personagens virtuais e reais, tudo está no seu lugar. O mesmo se aplica aos bizarros Bebop e Rocksteady, principalmente no momento de suas transformações.
Tartarugas Ninja: Fora das Sombras está longe de ser um grande filme, ou mesmo um filme bom, mas atinge o que parece ser o seu objetivo principal: duas horas (que bem poderiam ter uns vinte minutos a menos) de diversão irresponsável e esquecível.
Nota: 6.0/10
Sugestões: Se você gostou desse filme, assista a Tartarugas Ninja (2014), ou aos nostálgicos filmes dos anos 90.